Sempre é possÃvel demonstrar compaixão por alguém de várias formas...
Em tempos de tanta coisa ruim, se colocar no lugar do outro que está sofrendo, além de nós fazer bem mais forte, nos faz um bem danado. O grande benefÃcio está no despertar do desejo de querer ajudar, de transformar realidades, de fazer o bem, seja por si mesmo ou pelo próximo. Muitas vezes as pessoas confundem compaixão com empatia, sentir pena, sentir dó. Não se trata desses sentimentos, mas, sim, demostrar respeito e tomar alguma atitude para amenizar aquilo que o outro está sentindo. A pessoa que busca uma forma de aliviar ou reduzir o sofrimento do outro, mostra ter compaixão. No caso de não existir possibilidade de reduzir o sofrimento do outro por uma atitude, só de ouvir seu desabafo você já faz grande coisa. É exatamente aà que está seu poder, no desejo de querer ajudar pura e simplesmente para fazer o bem.
Você conhece a história do lobo astuto? Há muito estava
exausto de comer folhas e troncos das montanhas. Queria carne macia, fresca.
Mas os pastores daquela região eram muito espertos, tinham armas de fogo e
jamais deixariam um lobo se aproximar. Pensou então em um plano perfeito:
disfarçar-se de ovelha para despercebidamente atacar. Camuflado na lã, enganou
facilmente o pastor e os animais. E, para que tudo fosse como sonhou, passou o
dia seguindo o rebanho pelas montanhas.
Enquanto andava, tinha o pensamento
longe na dificuldade de ser carnÃvoro naquela região, no quanto a forçada dieta
o estava deixando enfraquecido e doente. Nem viu chegar à noite. Logo nas
primeiras estrelas notou que estava exausto com as pernas doendo terrivelmente.
Decidiu então deixar o ataque para a manhã seguinte. Antes de pegar no sono viu
que, mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, as ovelhas precisavam se
revezar durante a noite em uma vigÃlia que as protegeria de ataques dos lobos.
Ouviu histórias terrÃveis sobre os séculos e séculos em que
as ovelhas fugiam dos lobos, sempre com medo, sempre assustadas, nunca andando
de coração limpo atrás do seu pastor. O lobo imaginou-se naquela situação.
Pensou no sofrimento que seria aquele eterno temor. Antes de amanhecer
despiu-se do disfarce e foi para casa sem atacar nenhuma ovelha.
E percebeu que raÃzes e folhas podiam ter outro sabor: liberdade.
Essa histórinha antiga é um dos meus exemplos preferidos de
compaixão.
O lobo estava tão preocupado com os próprios problemas que todo o
resto a sua volta parecia não existir ou pelo menos não ter importância alguma.
Mas a partir do momento em que, mesmo que pelos motivos errados, teve a chance
de estar na pele do outro, notou a si mesmo. E foi embora mais respeitoso da
própria história. E sem fazer mal algum.
Exatamente o que em outras palavras diz Tenzin Gyatso, esse senhor de 86 anos chamado Dalai-lama, lÃder máximo do budismo no mundo. Ele acredita que sentir compaixão pelo próximo acaba resultando em um coração
forte, pronto para enfrentar qualquer mar bravio. Porque, quando toda nossa
atenção está focada apenas em nós mesmos, qualquer problema, por mÃnimo que
seja, ganha uma proporção gigantesca, trazendo medo e desconfiança. Mas a partir
do momento em que se pensa também no outro, não só para tentar entendê-lo, mas
para amar e cuidar, nossa própria vida ganha um novo sentido. A autoconfiança e
a coragem resultam em uma força interna e em uma calma reconfortante. Ou nas
palavras de Dalai-Lama: “compaixão é poder. Cultive-a".